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Raquel Lyra concede entrevista exclusiva

Por | 2 de junho de 2017 às 17:40

Raquel Lyra conversou com equipe do Blog Thiago Lagos (Crédito: Juelayne Gondim)

Em entrevista exclusiva ao Blog Thiago Lagos, a prefeita de Caruaru, Raquel Lyra, falou sobre vários assuntos. Entre os principais, destaque para os desafios enfrentados nos primeiros meses a frente do governo municipal, o cuidado em ouvir a população, colocar a casa em ordem, além da política como um todo e da família, considerada a sua base forte.

Aproveitando a oportunidade, com os festejos juninos batendo a porta, Raquel também evidenciou o cuidado que teve com o São João, tida como uma das festas mais importantes para a economia da cidade. Ela falou um pouco sobre o conceito, polos de animação, diversidade cultural que será trazida para festa e muito mais.

A entrevista aconteceu no gabinete da prefeita, no Palácio Jaime Nejaim (Crédito: Juelayne Gondim)

Blog Thiago Lagos – Para começar, a senhora pode fazer uma avaliação desses primeiros meses de governo?

Raquel Lyra – A necessidade que a gente tem de estruturar a administração pública para profissionalizar a gestão e conseguir alcançar resultados é o primordial nesses primeiros meses. Com isso, a ideia é permitir mais participação popular; estruturação interna de órgãos como a própria procuradoria, controladoria, administração, planejamento, entre outros departamentos da prefeitura. Todas as quartas-feiras acontece uma reunião com os secretários. Nesse momento apresentamos o planejamento do que está sendo feito para esse ano e apontando já para os próximos anos. Essa parte de reestruturação interna dá muito trabalho. Para se ter uma ideia, ainda estamos trabalhando encima da organização de contratos e serviços básicos para a população que pegamos desassistidos, contrato de recolhimento de lixo, de iluminação pública, merenda escolar, abertura de vagas nas escolas e por aí vai. Temos um déficit grande na educação infantil. Mas nesse ano já conseguimos abrir 2600 vagas, o que já é um grande avanço. Dessas vagas, 600 foram para a educação infantil.

Blog Thiago Lagos – Desde o período da campanha eleitoral, a senhor frisa a participação popular. Como isso vem sendo trabalhado atualmente?

Raquel Lyra – Na verdade, a população já vem participando muito ativamente. No primeiro mês de governo lançamos o programa “Juntos pela Segurança”, onde a participação da população dos fóruns de discussão chegou a chamar atenção, variando entre 600 e 700 pessoas. Já nos fóruns temáticos, cerca de 400 pessoas compareciam aos encontros. A gente está montando, agora, um conselho de bairro. O primeiro instalado na zona urbana foi no bairro Santa Rosa e na zona rural, em Serrote dos Bois. Isso é uma prova que a população tem participado e reagido ao nosso estímulo. Mas, isso também é uma via de mão dupla, já que muitos têm nos puxado para sugerir algo. Essa é uma exigência nos nossos tempos, que exista sintonia entre tudo que o governo vai fazer e o que a população necessita. Vamos evoluir também no que diz respeito à utilização das redes sociais. As pessoas usam essas ferramentas para colocar críticas e sugestões e a gente leva isso para dentro do governo. Estamos planejando criar um aplicativo de gestão participativa e colaborativa em Caruaru. Para isso, estamos buscando apoio com uma instituição não governamental. Estamos trazendo pra cá as contas públicas: Como nós estamos? O que tem disponível? O que é possível de ser feito? Vamos negociar junto ao servidor.

(Crédito: Juelayne Gondim)

Blog Thiago Lagos – Ser a primeira mulher eleita ao cargo de prefeita de Caruaru. O que isso significa na sua vida política? Acaba gerando um pouco mais de responsabilidade?

Raquel Lyra – A mulher ainda tem uma participação muito pequena na política do Brasil e em Pernambuco não é diferente. Hoje, 26 mulheres são prefeitas. Então, eu fui a única mulher eleita no segundo turno, no Brasil. Cidades acima de 350 mil habitantes eu acho que são três ou quatro prefeitas mulheres. O restante são todos povoados e ocupados por homens. É um universo absolutamente machista. A política é um universo machista. Os partidos são comandados por homens. Quebrar essas barreiras é extremamente difícil. Não é porque sou filha de João Lyra e sobrinha de Fernando Lyra, que tenho as portas abertas com mais facilidade. Por isso temos de ultrapassar barreiras como essas para firmar nossa representatividade na política.

Blog Thiago Lagos – A senhora falou há pouco que a política sempre foi um universo dominado por homens. A senhora já sofreu algum tipo de preconceito por ser mulher e está no meio político?

Raquel Lyra – Talvez, o preconceito não seja expresso. Na eleição passada, chegaram a falar que se eu fosse eleita, quem mandaria na gestão seria meu pai. Depois disseram que eu estava grávida, talvez como uma forma de dizer que eu não estaria à frente da prefeitura, caso fosse eleita. Eu reputo os dois fatos a puro machismo e não é fácil a gente ir quebrando o poder masculino. A gente tem que se juntar muito, as poucas mulheres que existe na política, para trocar ideia, para sobreviver e conseguir quebrar outros paradigmas. Aqui em Caruaru, uma cidade de 350 mil habitantes e uma representante na câmara de vereadores. Eu sou a primeira mulher eleita prefeita, o que eu acho um super avanço para nossa cidade, mas também não era para a gente está no tempo de hoje dizendo “poxa, primeira mulher prefeita”, nós estamos no século XXI e a gente ainda está discutindo isso.

(Crédito: Juelayne Gondim)

Blog Thiago Lagos – Ser descendente de uma família política lhe imprime mais responsabilidade?

Raquel Lyra – Me dá mais responsabilidade pela questão da história política que a minha família tem. A população acredita que a gente pode fazer diferente e isso é uma responsabilidade gigantesca. Tive grande oportunidade de, como servidora pública, ser escolhida pela população de Caruaru para administrar seus destinos. E é com essa responsabilidade que todos os dias eu levanto bem cedo e vou dormir bem tarde, querendo dar, a cada dia, a contribuição para Caruaru ser uma cidade melhor.

Blog Thiago Lagos – Quando a senhora não tem compromissos oficiais, o tempo é da família? Como é a vida em casa? O que a senhora costuma fazer com seus filhos, com seu marido?

Raquel Lyra – Adoro me trancar no sítio, ficar em casa, assistir TV, jogar joguinhos com meus filhos, sai para comer pizza, enfim, atividades normais de família. Agora, ficar em casa com eles, para mim, já é uma grande festa.

Raquel carrega sempre consigo dois pingentes que representam os filhos (Crédito: Juelayne Gondim)

Blog Thiago Lagos – Seus filhos sentem algum tipo de dificuldade para acompanhar o seu ritmo?

Raquel Lyra – Eles começam a compreender, mesmo sendo pequenininhos. Um tem quatro e o outro tem sete anos. Quando eu vejo na fala deles que o que eu faço importa, que o que eu faço faz diferença, tudo faz ainda mais sentido. Essa semana eu tava conversando com o mais velho, e ele dizia assim: “Mãe, mas tem que se preocupar com os mais pobres na festa de São João”, e eu disse: “Não, filho, mas a festa é de graça para todo mundo”, aí ele disse: “Mas como é que eles vão comer e beber?” Aí eu disse: “Se eles não podem comer, nem beber, eles vão vender a comida e a bebida, para poder ganhar seu dinheiro também”. Eles estão compreendendo o que estou fazendo e estão preocupados também em a gente construir um mundo melhor. Então, eu vivi isso na minha casa. Minha mãe e meu pai sempre se dedicaram a vida pública e tive a oportunidade de aprender com isso. Eles estão começando também no tempo deles, no jeitinho deles, a me dividir um pouco com essa cidade enorme que é Caruaru.

Blog Thiago Lagos – A senhora tem planos de aumentar a família?

Raquel Lyra – Olhe! Espalharam boatos de que eu estava grávida. Diga aí que não estou, eu só engordei. Estou tentando emagrecer, mas não consigo… (risos). Mas eu acho que se eu vivesse há 30 anos, eu tinha uns cinco filhos. Hoje, como a vida é mais corrida e mais difícil, eu ainda sonho com o terceiro, mas deixa aí para ver o que é que o destino vai dizer.

No gabinete, um espaço reservado para a família. Na fora a prefeita Raquel Lyra aparece ao lado do marido, Fernando Lucena e dos dois filhos (Crédito: Juelayne Gondim)

Blog Thiago Lagos – Quando a gente pensa em mulher, a gente já leva logo para questão da vaidade e a preocupação com estar bem. Como a senhora faz para administrar a vaidade? Sobra tempo?

Raquel Lyra – Está defasado! (risos) Está bastante prejudicado. Recebendo uns puxões de orelha da mãe, de vez em quando uns amigos donos de loja mandam umas roupas lá para casa… É o que salva (risos). Quando tenho algum compromisso que exija um pouco mais de preparo, minha amiga Rosângela Augusta que me salva. Faço ela acordar às 6h da manhã para fazer uma maquiagem, mas tem sido muito pouco, muito pouco.

Blog Thiago Lagos – A senhora comentou há pouco que tem muitas lembranças da época que era pequena, que seu pai estava no governo. Como é que vem sendo a relação com o seu pai e com a história da família?

Raquel Lyra – Eu tenho sorte de poder ocupar a função que ocupo, ter passado pelas funções que ocupei, como deputada e até como servidora pública, tendo trabalhado como procuradora no palácio, de sempre ter a quem consultar. Muita gente chega e diz que tenho sorte por sempre ter alguém com quem eu possa conversar. Fazer política não é uma atividade fácil. Muitos interesses são envolvido e nem sempre são interesses públicos. Então, eu saber que tenho alguém com quem eu possa conversar, cujo interesse é absolutamente que as coisas deem certo é muito bom. Agora, não quer dizer que a gente concorde em tudo. A gente discute, briga, mas sempre para chegar em um denominador comum. Eu e meu pai, a gente conversa muito; converso com minha mãe que tem uma larga experiência, conversava muito com meu tio Fernando, uso muito minha tia Márcia que usou muito a experiência do meu tio Fernando, minha prima Patrícia que conviveu muito com meu tio Fernando, enfim. Isso pra mim é um alento.

(Crédito: Juelayne Gondim)

Blog Thiago Lagos – Agora, passando a falar do São João. A valorização da cultura local e a diversificação está figurando como uma bandeira da sua gestão. Como isso está sendo trabalhado?

Raquel Lyra – A gente só valoriza o que a gente conhece e tem a capacidade de preservar. E fui eleita sempre pregando que a gente ia trabalhar a democratização da festa de São João, do nosso calendário cultural. Caruaru é uma cidade de cultura, não só na linguagem musical, mas na dança, no teatro, no cordel e na literatura. Nosso compromisso é garantir visibilidade a essa cultura e a gente só faz isso se garantir a oportunidade de que ela apareça. A gente disse que ia descentralizar o São João e o nosso compromisso está mantido. Pela primeira vez a gente fez um edital de chamamento público de artistas, onde, mais de 600 se inscreveram e mais de 400 participarão da grade. Com quatro polos na Zona Rural, outros quatro na periferia, o palco principal no Parque de Eventos Luiz “Lua” Gonzaga e no polo Azulão, que chamamos de espaço da diversidade, muita coisa vai acontecer nesse mês de junho. A gente podia optar pelo mesmo modelo de antes: Garantir dois grandes palcos, o Alto do Moura e o Pátio de Eventos. Se agente continuasse na mesma pisada corria o risco da festa de Caruaru poder ser feita em qualquer lugar do país. Mas o que nos diferencia é exatamente porque toda a cidade se veste de cultura, as pessoas respiram São João, se vestem de xadrez, botam bandeirinhas nas casas, acendem a fogueira na porta. Isso é que faz a diferença. E quem quiser experimentar o autêntico São João vai lá em Pau Santo, Gonçalves Ferreira, Terra Vermelha, que é de onde surgiu mesmo a festa. Quem quiser experimentar o entretenimento, o São João comercial, a pegada de quem ta na mídia nacional forte, vai poder aproveitar o São João do Pátio de Eventos.

Blog Thiago Lagos – Te incomoda essa comparação de Campina com Caruaru?

Raquel Lyra – Não. Esse ano a gente acabou com a dúvida. Antigamente, o slogan de Caruaru era o maior e Campina Grande era o melhor. Agora, a gente juntou e nosso slogan ficou como o Maior e Melhor. Estamos com uma programação pesada de forró. Buscamos fazer uma programação que trouxesse público na sexta, no sábado e no domingo, garantir que as pessoas venham para Caruaru e fiquem em Caruaru.

(Crédito: Juelayne Gondim)

Blog Thiago Lagos – Qual a mensagem que a senhora deixa para os caruaruenses?

Raquel Lyra – Minha mensagem é sempre de fé no futuro. De que a gente pode fazer a diferença a partir do ambiente em que se vive. Falando de Caruaru, cada um pode fazer a sua parte, nós precisamos estar juntos com a população para fazer as transformações que a cidade precisa. Se a gente precisa ultrapassar a questão da violência, é claro que eu não estou aqui me omitindo da responsabilidade, mas todos os passos que vamos dar, precisamos fazer juntos, para ter uma cidade limpa, educação, infraestrutura, saúde, enfim. Isso a gente precisa fazer junto. A população precisa entender que existe prioridade para cada momento e a gente escolher junto para onde vai o investimento do município. Se estamos vivendo um momento de crise, é o momento de união, de diálogo, de transparência. É isso que deve ser a mudança de paradigma, do que foi para o que deve ser o mundo da política, das administrações públicas. Temos de superar todos os obstáculos juntos. Eu não tenho dúvida nenhuma de que sairemos mais fortes dessa crise.

(Crédito: Juelayne Gondim)

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